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Quadrinhos: Infantis ou não!?
- Irônico o-Culto (1)
Publicado por
Vinicius
III
Nessa minha última
investigação, me parece demasiado necessário tratar de assuntos mais simples
antes de prosseguir nestes que aparentam ser tão complexos e que muito exigem
de meu frágil raciocínio.
Quando pensamos em
magia, entidades, símbolos e coisas semelhantes, parecemos ignorar algo
relativamente simples como a linguagem. Farei uma breve exposição sobre o tema
sem objetivo de alto aprofundamento, apenas como modo de dar ao leitor uma
pequena lâmpada para que possa vislumbrar o caminho que estou tecendo sem
correr o risco de se perder.
Alan Moore disse
certa vez em um de seus documentários, que um livro de magia é um livro de
linguagens. Embora eu já possuísse essa noção há alguns anos, foi só
recentemente ao ver tal afirmação, que as peças soltas em minha mente pareceram
criar vida, e buscar umas as outras de modo a formar uma peça única. Com efeito
todo nosso pensamento se dá em linguagem, eu diria com certo temor que todo
nosso pensamento é feito em enunciados. Por exemplo, se desejo pegar algo sobre
a mesa, dou a ordem ao meu corpo como enunciado, mesmo que me esqueça em
seguida de ter feito, assim como quando digito esse texto penso cada enunciado
segundos antes de escrevê-los. Usando esse raciocínio quando penso espíritos e
quando analiso os enunciados sobre o mesmo, percebo está constantemente preso
ao enunciados e aos pseudo-enunciados. Sim todo enunciado, como já lhe diz o
próprio nome, deve enunciar ou dizer alguma coisa, porém muito do que dizemos
acerca de questões metafísicas não são capazes de dizer algo, e sempre que nos
esforçamos para falar do além mundo de forma clara, acabamos por falar do
mundo.
Quando por exemplo
falamos de Deus, sempre falamos do mundo e de nossas experiências do mundo, se
digo por exemplo “Deus é misericordioso” só posso compreender isso por ter a
experiência em primeira ou segunda pessoa de ações ditas misericordiosas, sendo
que a mesma se dá no mundo(com efeito se é misericordioso em um tempo e espaço). Se digo ainda que Deus é onisciente,
mesmo que eu não tenha a onisciência no mundo, eu possuo a ciência e tudo que
preciso fazer é pensar essa mesma ciência em um extremo. O mesmo se daria com o
fato de eu ter uma formiga no mundo, mas não ter no mundo uma
formiga-castor-gigante, mas poderia facilmente pensar uma por ter em minha
mente a ideia de formiga, de castor e de grandeza. Porém talvez a frase que
melhor se aproxime de um pensamento justo sobre Deus seja “Deus é”, porém essa
frase é muito pouco dedutível, podemos analisa-la de inúmeras maneiras e sempre
que fizer isso recorrerei ao mundo. Segundo a tradição enquanto possuir um
corpo, não poderei pensar Deus ou qualquer coisa de cunho além-mundo.
Ainda falando
daquilo que pode ou não ser pensado, quando digo “Deus é misericordioso” será
que posso compreender de fato o que isso significa? Analisemos a frase, o que
posso dizer sobre Deus sem submetê-lo ao mundo? A Hermética dirá que Deus é
indizível, icgnoscível e parece ser impossível afastar esse pensamento, assim
sendo, tentemos falar da misericórdia, podemos falar dela? Será a misericórdia,
Justiça, o Bem e outras coisas atribuídas a Deus e as ações de alguns homens,
pensáveis? E o que é a justiça ou a misericórdia? Podemos dar uma explicação
sem recorrer a exemplos(mundo) ou que abarque tudo que é justo ou
misericordioso? Essas questões morais são tão metafísicas, ao meu ver, quanto
Deus. Então sobre tais temas abandono e continuo a minha investigação sobre a
linguagem.
Voltando a
afirmativa de Moore, e à compreensão de certas ideias não podem ser ditas, mas
apenas mostradas por exemplos( justamente por não pertencerem ao mundo
precisamos de algo que lembre por semelhança ou analogia) que parece
desvelar-se a nós o funcionamento das ritualísticas primitivas e visão
espiritualistas que perduram até os dias atuais. Grande era Atenas, onde os
homens eram reconhecidos por sua sabedoria, ou até queriam ser sábios. Mas como
podiam representar essa sabedoria? como os espartanos poderiam representar a
guerra? Como poderiam representar o amor? Talvez os poetas creram que com seus
cantos resolveram esse problema, talvez Platão creu resolver, talvez ainda haja
alguém que acredite que possamos dizer a justiça, a liberdade ou o amor sem
necessitar recorrer a exemplos ou poesias.
O que é um ritual se
não uma soma de enunciados que visam ao final chegar a uma conclusão? Quando o
adolescente que compra os almanaques com receitas mágicas desenha sob si um
círculo, e sobre si coloca uma pena de Pavão tentando puxar para si toda a ideia
de beleza que aquela pena aos seus olhos carrega o que ele está fazendo, se na montando
materialmente uma cadeia de enunciados, tal como em encantamento mudo? Ou os
atenienses que alimentavam e usavam corujas em seus cerimoniais a fim de se
tornarem mais sábios? Ou até mesmo os nordestinos brasileiros que matariam
essas mesmas corujas se pudessem, a fim de espantar a morte?
Objetos não carregam
ideias, a coruja leva a esperança de sabedoria a quem dela espera a sabedoria
tal como leva o temor a morte a todos os nossos vizinhos do interior do
nordeste que ouvem seu piar a noite. Os objetos em nossos rituais são
enunciados, são ideias, afirmações transformadas em símbolos talvez, para
educar os que eram desfavorecidos intelectualmente e que lotavam os templos e
seus sábios com problemas. Como
ensinar a quem está sempre ocupado com o trabalho braçal ou logístico as
deficiências da linguagem e a busca de um poder não imediato, um conhecimento
reflexivo? “Ensinemo-los nossos saberes, mas sejamos didáticos, dissemo-los que
devem buscar a justiça e façamos dela uma deusa a sempre vigiá-los.
Demonstremos como transmutamos nosso espírito, mas de modo que possam ao seu
modo acompanhar, façamos objetos, imagens e até mesmo usemos drogas para
auxiliar espíritos tão incapazes” Assim creio pensaram os antigos quando
divulgaram seus saberes aos círculos externos, e assim ainda pensamos hoje,
ainda falamos com Atenas e ainda tememos os daimons.
Onde fica então esse
mundo espiritual se não em nós mesmos? O que são todos esses espíritos se não
uma manifestação do que temos dificuldade de traduzir sobre o mundo e sobre
nós? O que é toda a ritualística se não um modo primitivo e falho de desvelar
aquilo que nós ocultamos? Ora se compreendermos esses espíritos, esses Samael,
Asmodeus, Atenas, Jesus e tantos outros em nós mesmos, será que precisaremos
dessas vestimentas ultrapassadas e de significados perdidos no tempo?
O que é um banimento, se não uma teatralização física do que queremos nos livrar em nossa mente? Imaginamos o punhal ameaçando nossos medos, imaginamos a água lavando nossos temores. O que são os ataques espirituais se não a ideia que não pode ser facilmente traduzida travestida de símbolos e deuses? Para que havemos de querer um mundo espiritual se já temos um mundo grande e desconhecido em nosso próprio espírito?
Não quero por meio desse texto afirmar nada a vocês, apenas alfineta-los e despertar uma ou outra reflexão, de modo a quebrar os grilhões que lhes prendem tão fortemente as tradições e aos maus poetas.
O que é um banimento, se não uma teatralização física do que queremos nos livrar em nossa mente? Imaginamos o punhal ameaçando nossos medos, imaginamos a água lavando nossos temores. O que são os ataques espirituais se não a ideia que não pode ser facilmente traduzida travestida de símbolos e deuses? Para que havemos de querer um mundo espiritual se já temos um mundo grande e desconhecido em nosso próprio espírito?
Não quero por meio desse texto afirmar nada a vocês, apenas alfineta-los e despertar uma ou outra reflexão, de modo a quebrar os grilhões que lhes prendem tão fortemente as tradições e aos maus poetas.
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1 comentário(s):
Sempre tive essa ideia de que tudo e fruto da mente, mas em um coletivo pulsante, vivo.
Nos rituais de banimento faço a projeção do que quero colocar pra fora do circulo, pois minha capacidade não me permite deixar tudo "esterilizado". Porque como disse, mesmo que sonhe ou realmente tenha uma projeção para participar de uma iniciação, com conhecidos num mundo "astral"... So vai me restar um aprendizado que ainda tenho que provar-lo a mim. Ótimo Texto.