Embora seu tratamento no meio ocultista(escrito) seja em maior parte contemporâneo e ainda muito especulativo, o sexo deve ser tema de máxima relevância para o estudante. Tal afirmação é feita não por um caráter ético ou espiritualista, bem longe disso, mas pelo caráter próprio do ocultismo e das noções de conhecimento sobre si mesmo.
  Graças ao pensamento asceta, o sexo tornou-se algo impróprio ao pensamento humano, segundo Foucault tal ideal tornou-se mais forte graças aos movimentos científicos/psicologistas do século XVIII sob a influência do movimento industrial, diz o citado filósofo que com a revolução industrial o mundo europeu adotou um pensamento totalmente voltado à lógica de produção, e por culpa disso, o sexo tornou-se um meio de produção como qualquer outro, cuja única finalidade era a procriação, tal ideal foi criado dentre vários motivos, para incentivar a geração de trabalhadores fabris e fortalecer o comando dos burgueses sobre a classe operária unindo o dogma religioso com o cientificismo da época. Graças a esse fato histórico, formas sexuais não conceptivas foram tomadas não só como aberrações morais, mas também atentados contra a saúde do Estado. Jovens eram proibidos de se masturbarem, pois tal prática segundo o meio científico poderia causa tanto impotência na vida adulta, como a loucura. Para impedir a masturbação de homens e mulheres incentivou-se o casamento nas idades logo após o movimento de maturação dos corpos. Não só a masturbação tornou-se proibida, mas o sexo oral e anal, pelos mesmos motivos, gasto de sêmen e deficiência psicológica(Veja que esses influenciam também o movimento espiritualista asceta dos modernos). Começa então verdadeiramente a luta contra o sexo com prostitutas e contra o sexo não conceptivo(contra grupos homossexuais principalmente), tal luta que é moderna e não medieval como muitos acreditam.
  Embora a ciência atualmente tenha voltado atrás com essas questões(por razões também políticas) esse modo de ver o mundo influencia enormemente nossos espíritos, apenas com os movimentos contra o cristianismo e por conseguinte contra a cultura, dos séculos XIX e XX com pensadores como Aleister Crowley, Nietzsche e Anton Lavey que os jovens passam a buscar uma maior liberdade corporal e espiritual. Embora a influencia desses e de outros autores na libertação da prática/pensamento sexual seja louvável, nossa sociedade(Brasil) ainda se prende aos dogmas sociais, não importando se o grupo é cristão, ateu ou pagão, a liberdade sexual ainda é rara.
  Segundo Foucault o sexo foi tema importante para as escolas de mistérios do oriente e do ocidente, e objeto necessário da iniciação da juventude no conhecimento sobre a natureza. Segundo o autor, o sexo deve ser ensinado ao jovem de duas formas com nomes distintos, esses são a "Scientia Sexualis" e a "Ars Erótica", a primeira é a educação através da palavra dita ou escrita, no caso, se dá por meio do discurso cientifico e filosófico e a segunda é a parte inominável do conhecimento sexual e só pode ser compreendido pela prática.
  Na Scientia Sexualis, gênero de conhecimento desenvolvido principalmente pelo cristianismo e a escolástica, há uma necessidade de falar sobre o sexo, dizer sua função, suas necessidades etc. Tal modo não só é/era insuficiente para tratar o tema, como foi usado como modo da Igreja/Nobreza compreender e discutir tais temas tidos como vulgares(dos pobres) e animalesco sem comprometerem a própria honra. A Scientia Sexualis é provavelmente a causadora dos maiores equívocos sobre o sexo, que lançou ao inferno os assexuados, homossexuais e libertinos.
  Na Ars Erótica o conhecimento se dá por meio da prática do sexo, questões como "O que é o sexo", "O que é necessário para o sexo" e coisas do gênero não são importantes, porém não se deve tomar como a prática sexual livre de conhecimento, mas repleta dele. Conta Foucault que os mestres educavam seus alunos de forma direta ou indireta, os jovens(geralmente homens) eram levados a compreender como se dava o prazer em seu próprio corpo, quanto ele durava utilizando diferentes modos, como intensifica-lo, como livra-lo da dor e assim por diante. O aprendiz era levado a compreender seu próprio corpo, e mais do que isso, a supera-lo! A cada prática, o mestre instruía seu aprendiz a como intensificar o prazer, como intensificar o tempo, como escolher boas mulheres para o coito, enfim o ensinava verdadeiramente sobre o sexo.
  O sexo para o ocultista passa de ferramenta de conhecimento de si mesmo, para ferramenta de auto controle em diversos níveis, pois aí é exigido não só o controle do corpo, mas da mente. O prazer perde toda a qualidade moral e passa a ser um fato e uma competência.
O aprendizado do sexo, não se limita ao uso prático e teórico dentro do próprio sexo, mas se estende ao espírito por dar ao estudante melhor controle emocional e da Vontade, se estende ao social por dar ao estudante maior liberdade de expressar-se e de pensar e principalmente se estende ao corpo, que se torna menos submisso.
  Não penso em outro estudo sobre o sexo no ocultismo que não exija a prática do controle emocional, corporal e intelectual. O uso do sexo para ativar esse sigilo ou para qualquer fim do gênero se torna estapafúrdio para aqueles que aprendem de fato sobre o tema, que aprendem a conhecer e não a reproduzir somente.
  Tais afirmações se tornam claras, quando conhecemos o ocultismo e sua história, seu mapa conceitual, quando vemos além do absurdo de ver o ocultista como aquele que estuda o sobrenatural e reproduz técnicas ou devaneios do tipo, mas quando vemos o ocultista como aquele que em sua sede pela verdade(βιος θεωρπτικός), retira o véu que cobre conhecimento, como desvelador e não como aquele que vela(põe o véu). Sendo então o ocultista um des-cobridor, um homem de Aletheia, ele deve ser aquele que em qualquer tema, seja sobre o Sexo ou sobre o Homem, não se prende ao que foi dito, mas experimenta sem prender-se a experimentação buscando desvelar e conhecer o que ali se oculta, e sendo ele um magicista, deve ser também capaz não só de mostrar o que aprendeu, mas de elevar e superar-se em suas práticas e conhecimentos.

"Praebere Sitientibus"
Lord Vincus
2014


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