Entre a magia e a fantasia

            Uma das coisas que mais me chamam a atenção é a visão dos jovens desta nova geração em relação à magia e ao ocultismo. Muitos dos adolescentes passaram a atribuir a “Ciência Sagrada” às práticas que remetem ao fantástico, principalmente ao que se pode ver no cinema.
            Lembro-me que certa vez alguns jovens me pediram, numa comunidade do Orkut, para “ensinar-lhes” magia e ocultismo. Respondi que não era professor, mas poderia sugerir leituras e tirar dúvidas. Até aí tudo bem. Porém, dois destes garotos passaram a me pedir coisas que fogem à realidade ocultista. O primeiro, um garoto de 13 anos me disse que queria aprender a voar em vassouras e atirar “raios” com uma varinha mágica. Falou ainda que queria chegar a ser um bruxo tão poderoso quanto Harry Potter.
            O segundo, um rapaz de 17 anos, queria simplesmente que o ensinasse a ficar invisível para destruir os seus inimigos e “apalpar” garotas. Pode isso?
            No primeiro caso, expliquei a ele que há uma diferença entre o que se vê nos filmes e o que realmente é, em relação à magia e ao ocultismo. Sugeri-lhe algumas leituras de natureza teórica para que o mesmo pudesse se familiarizar com o assunto. Já no segundo caso, falei ao garoto que não conhecia alguma técnica para ficar invisível. No máximo algo para passar despercebido entre os demais. Além disso, expliquei a ele que magia não deve ser ensinada a pessoas que querem aprender com o intuito de apalpar garotas.
            Ambos os casos, acima mencionados, servem para exemplificar a imagem que grande parte dos jovens tem sobre o que é magia. Esta é um conjunto de práticas e técnicas ligadas às leis naturais e espirituais, diferente desta visão fantasiosa, fruto do pensamento racional e materialista que está impregnado na sociedade contemporânea (que por sinal é um pensamento atrasado, do século XIX). Muitos associam a magia aos feitos fantásticos do cinema, tais como o Harry Potter, esquecendo-se de refletirem acerca de dois elementos totalmente distintos e que são confundidos: Magia e Fantasia.


O modus operandi vincuniano pode ocasionalmente diferir muito dos métodos mágicos populares, tal diferença se deve ao fato de que, o mago que caminha por esta linha deve estar sempre disposto a independência e ascensão. Não venho tratar nesse texto da linha ética ou moral da ascensão, pois este assunto já pincelei em "A ética egoísta e a eudaemonia" e em  "O pré principio anterior ao inicio sem fim."
O método que venho propor a vocês leitores, os que leem o que escrevo com carinho ou com ira, não é o mesmo método que uso no presente, mas é bem próximo e útil para o que pretendo passar.
Aconselho a todos que pretendem terminar esta leitura com a capacidade de não se enganar com as minhas palavras ( o que só conseguirão se forem desatentos), que leia meus textos anteriores, principalmente o "A magia e as ferramentas".

A Criação do círculo.

É aceitável uma preparação antes da criação do círculo, para evitar um trabalho mau feito e essa preparação não deve ter necessidade de objetos simples como giz,athames,cajados ou qualquer outra ferramenta externa. Mas necessita, principalmente de uma auto-organização e treinamento abstrativo.
Deve-se atentar para os humores de seu espírito, um espírito irado irá transferir a ideia de ira para a programação do círculo a ser criado. Um círculo voltado para o uso em batalha pode ser bem programado sob a utilização da essência da ira(ou com a influência de marte, como dirá os textos obscuros).
A figura geométrica do circulo é utilizada simplesmente por este ser a forma que se liga a ideia de perfeição. O circulo é visto como uma figura perfeita simplesmente por ser igual em todas as suas partes (assim como o quadrado e o triângulo equilátero) e por ser, segundo nossa propria observação e o pensamento hermético(de Hermes Trimegisto), o movimento feito pelo universo a partir do modelo de pensamento do Todo aplicado pelo Demiurgo e assim, figura de transmutação e geração(não ler como gerar do nada, mas criar algo novo a partir de algo pré-existente).
"9-Ora o Noûs Deus, sendo macho e fêmea, existente como vida e luz, faz nascer de uma palavra um segundo Noûs demiurgo que, sendo deus do fogo e do sopro, criou governadores, em número de sete, os quais envolvem nos seus círculos o mundo sensível; e seu governo se chama destino."(Hermes Trimegisto, p 13)
"11- Porém o Noûs Demiurgo, conjuntamente com o verbo, envolvendo os círculos e fazendo-os girar zumbindo, coloca desta forma em ação o movimento circular das criaturas , deixando-as fazer a sua revolução segundo um começo indeterminado até o término sem fim, pois começa onde se acaba. E esta rotação dos círculos, segundo a vontade do Noûs, produziu, tirando-os dos elementos que se precipitavam para baixo, animais irracionais(pois não possuíam o Verbo próximo de si)[...]"(Hermes Trimegisto, p 13)
Para criar um círculo(ferramenta de contenção,proteção, transformação e geração) segundo o método vincuniano, é simplesmente uma mistura de vontade, abstração, imaginação e imposição de sensações e sentimentos.

Receita:
Em pé, se for noite apague a luz e acenda velas* no seu campo de visão sem exageros( o objetivo não é causar incêndios), caso se sinta mais relaxado coloque alguma música instrumental. Afaste os pés de uma forma em que o angulo entre suas pernas forme um triângulo equilátero*, leve as mãos com a palma face para cima até as coxas. Feche os e respire fundo, sem soltar o ar visualize um círculo no qual você é o seu centro, dobre levemente os joelhos e solte o ar na medida em que vagarosamente ergue os braços, enquanto levanta os braços imagine o circulo brilhando e uma chama branca brotando dele. Quando tiver erguido totalmente as mãos respire fundo rapidamente dessa os braços como um descer de asas e reuna as mãos(como em oração) em frente ao peito, soltando o ar de vez com o bater das palmas, nesse momento veja o círculo brilhando muito e explodindo em chamas brancas.(preencha o "ritual" com sons luminosos e sons de fogo).

Símbolos

*Velas: A baixa claridade direcionado a um ponto especifico incentiva a imaginação e a atenção, e auxilia (não é necessidade) na manipulação de energia.
*Triângulo equilátero com ponta para cima: Simboliza a ascensão, o elemento fogo(transformador, solve e coagula), as três substâncias(corpo, alma e espírito),funciona como elemento energizador.

Músicas sugeridas:

Clair de lune - Debussy
Cânticos gregorianos em geral
Requiem - Mozart

Observações:
Se você não tiver uma perna ou for paraplégico, pode fazer sentado(afinal não há muitas opções), se lhe faltar um braço ou dois, ou as mãos, mentalize-as, como se as tivesse. Se você não possuir algum dos 5 sentidos, é possível que este método não funcione bem.

Referências Bibliográficas.

Hermes Trimegisto, Corpus hermeticum, Editora Hemus, 1978. (Escrito provavelmente entre os anos 100 e 300 D.C.)


Vivenciar o ocultismo é muito mais que ascender velas e encher a casa de parafernálias bonitas e inúteis ao uso comum. A sagrada ciência está inserida em absolutamente todas as suas praticas diárias e cotidianas, desde a forma como se levanta da cama até a forma como torna a deitar-se nela ao fim do dia.  Muitos se consideram verdadeiros estudiosos, só por se dedicarem parcamente a uma ou duas praticas ignorando aspectos muito mais importantes e cotidianos como o tempo.
É fundamental ao buscador que, dentre muitas das doutrinas que lhe conduzirá a plena consciência, ele internalize e domine os seus tempos, compreenda o movimento das coisas e dos outros ao seu redor e seja capaz de se adequar a estas vibrações ou ainda quando necessário adequá-las ao seu mover. Esta é por tanto uma pratica integral e diária, não cabível a exclusão dos dias de preguiça, doença ou muito menos aspectos mundanos como férias e folgas.
Dominar e perceber o tempo são ainda uma quebra de paradigma, parar de percebê-lo como algo linear e padronizado e entender suas relações com nossas paixões e desamores são meios para que essa ruptura ocorra, é de fundamental obrigação do buscador que tais aspectos sejam internalizados e que ainda se compreenda a inteira relação que há entre os atos mágicos e o tempo em suas diferentes condições.  A compreensão de tais conexões facilitará o entendimento de muitos eventos da vida comum e de muitas formulas mágicas que eventualmente não saem como o esperado.
Aquele que se aplica verdadeiramente compreende que nenhuma dedicação pode ser integral se não se fizer presente no tempo certo e da forma correta, ou mais propriamente com o ritmo adequado. Este é um exercício que deve ser vivido e não simplesmente treinado, o tempo é e será ainda mesmo muito após a morte desse planeta, por tanto não esperará suas fraquezas pessoais como preguiça e fadiga para ser compreendido e perfeitamente usado como fonte de poder. A questão nunca será se o tempo esta contra ou a seu favor, a verdadeira pergunta é:” Você está contra ou a favor do seu tempo?”
 Progredir Sempre!

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