Muitos vem à questionar "como pode o ocultismo deposto de crenças?", "qual o sentido disso, já que não nos provê felicidade?", dentre outras coisas... Ainda não compreenderam a natureza da divergência sutil do Ocultismo, em seus meios e fins, para a de uma prática Espiritualista, a qual são, provavelmente, adeptos.
Antes devo ressaltar que o Ocultismo embora PAREÇA (e trago atenção à palavra "pareça" aqui posta) similar ao Espiritualismo, em certos pontos, ele é, em sua natureza, diferente. Irei explicar aqui como se dão essas semelhanças e diferenças de forma a tornar clara essa questão.

Assim como demonstrei no texto Das Crenças: O Espírito[1] temos que o conjunto de crenças que compõem e movem o indivíduo formam, em conjunto, o Espírito. O Espírito busca a sua satisfação plena, a felicidade. Assim temos que tanto um monge, que vive em contato com a natureza, quanto um cientista, que vive sua vida a pesquisar, estão, neste quadro ideal, a exercer a volição de seus Espíritos em busca da felicidade. Já que crenças não necessitam da verdade o monge não precisa justificar suas ideias de "contato com a natureza" e etc e mesmo que o cientista consiga justificar sua busca pelo conhecimento ("o conhecimento enobrece o homem", "o conhecimento melhora a vida de todos", etc) esta é, ainda assim, uma noção moral daquilo que é desejado pelo indivíduo (ele considera o "conhecimento" como sendo algo bom, isso é uma noção moral) e, portanto,  temos que no fim ambos estão seguindo àquilo que satisfaz seus Espíritos, estão, de alguma forma e em algum nível, "praticando" Espiritualismo. Mesmo no caso do cientista, que está a fazer ciência, ainda temos a ideia de um Espiritualismo presente em sua missão, a busca pelo conhecimento. Isso, no entanto, não altera a natureza da ciência que por ele é produzida de forma alguma. Nesta mesma questão temos que isso também afeta o Ocultismo. Este é movido, também, por certo conjunto de crenças e desejos que podem ser exemplificados através das noções de que "conhecimento é valoroso", da "necessidade de desvelamento dos mistérios da natureza", etc. E assim como no caso do cientista o ocultista também é movido pelo Espírito, fazendo assim Espiritualismo, de certa forma, mas também o produto de seu ofício não se mácula por conta disso (sendo o produto do ofício do cientista o conhecimento científico e o do ocultista o conhecimento claro).

Temos também a necessidade de pontuar as diferenças entre o Ocultismo e outros sistemas de crença de cunho Espiritualista. Assim como explicitado temos que o Ocultista é movido por seu desejo de desvelar o desconhecido e isso provê a ele certa felicidade. Isso é condizente com um sistema Espiritualista. No entanto a diferença crucial entre um e outro é que o fim do Ocultismo não jaz na felicidade em si, nem em noções de "iluminação", "evolução", tampouco almeja algum fim prático de "melhora de condição de vida" de seu "praticante" e muito menos se satisfaz com predileções inverídicas tomadas pelo indivíduo. O único e verdadeiro fim do ocultismo para o Ocultista é a produção de conhecimento verdadeiro e claro, assim como o fim do cientista é a produção de conhecimento científico e o fim do artista a arte.

E, no que tange Ocultismo enquanto parte do Espirito mas não sendo um sistema puramente Espiritualista, já temos essa divergência quanto ao fim, agora falemos do meio. Um sistema Espiritualista implica em um código de crenças, noções morais e etc, que NÃO É PRESENTE no Ocultismo. Enquanto um sistema Espiritualista prevê um fim prático (evolução/"iluminação", satisfação do espírito, encaminhamento da alma para alguma suposta realidade superior, etc) o Ocultismo não. O Ocultismo se propõe a produzir conhecimento claro, à desvelar mistérios, o que é feito com o conhecimento produzido pelo Ocultismo já não cabe, necessariamente, ao próprio Ocultismo. As práticas do Ocultismo só são de cunho investigativo, ferramentas e instrumentos usados para o ofício sobre outras matérias, não sendo, eles próprios, capazes de servir como um fim. Então temos que o Ocultismo é, antes de um "sistema", uma prática, um meio, para um fim determinado. A prática sendo a investigação daquilo que está oculto, e o fim a produção do conhecimento claro. Assim sendo ele não se prende aquém à dogmas, credos, opiniões e etc, não se limitando por essas coisas mas, justamente por sua natureza de cunho investigativo, se propõe a ser aplicado sobre todas essas coisas previamente citadas, penetrando-as e transcendendo-as sem se fechar, se concluir, tampouco se limitar.

Muitos, aqui então, podem se sentir, então, vazios e nus quando percebem que o Ocultismo é afastado, ou posto "acima" das crenças, de forma a não ser por elas maculado. No entanto, assim como apontei previamente[2], o Ocultista, tal como o indivíduo, se beneficia em alimentar em si a relação paradoxal entre Crença e Verdade, com cautela, clareza e uma sóbria noção de separação entre as partes. Possuindo, praticando e crendo, de um lado, em um sistema de crenças Espiritualista e no outro alimentando sua razão, seu discernimento, sua clareza e a busca imaculada pela Verdade, o Ocultismo.

Encontramos nisso, então, um certo problema: como adereçar uma crença sem tê-la? E isso pode ser resolvido com um pouco de desprendimento metódico. Para tratar de uma certa afirmação feito por tal sistema de crença é necessário que o Ocultista explicite do que ele está tratando, quem é que faz tal afirmação. (Exemplos meramente ilustrativos) Ex: "Você está com seu chakra fechado" - Enunciado pouco claro de cunho claramente Espiritualista. Para corrigirmos isso devemos explicitar às fontes. Segue: "De acordo com a ótica teosofista você parece estar com seu chakra fechado". Isso nos ajuda a entender a origem da sua perspectiva acerca de determinado tema e também entender, com maior clareza, o contexto o qual carrega a definição dos termos empregados. Assim podemos ter uma discussão factual acerca de crenças sem você carregar a crença em seus enunciados. Segue: "Ah, de acordo com autor TAL isso ocorre porque...". Pode-se discutir as origens e procedências dos sistemas de crença Espiritualista poderemos analisa-los com maior felicidade. "Mas quais as fontes desse autor? Porque isso não é condizente com o sistema TAL, que é uma fonte mais antiga e tradicional sobre o tema". Sempre que o Ocultista faz uma afirmação de cunho de crença é necessário que ele cite a sua fonte (seja um sistema como um todo, seja somente um autor) ou então explicite claramente que ele está expondo a opinião e crença dele, de forma a evitar problemas de entendimento. Quando ele, no entanto, realiza uma afirmação de cunho factual, uma afirmação verdadeira, ele PRECISA SER CAPAZ DE VALIDAR SUA POSTURA, apresentando uma justificação clara, provas e etc, que consigam comprovar seu ponto, sua afirmação.

Acredito que esta é uma exposição clara sobre o Espírito, e sua natureza, no Ocultismo.

Textos citados e indicados:
[1] - LEMOS, Hugo, Das Crenças: O Espírito
[2] - LEMOS, Hugo, Da crença e da verdade

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