“A ciência é um empreendimento essencialmente anárquico:
o anarquismo teorético é mais humanitário e mais suscetível de
estimular o progresso do que suas alternativas representadas por
ordem e lei.’’ P.K. Feyerabend


   Paul Feyerabend, em sua introdução do livro “Contra o Método”, deixa claro aquilo que ele deseja defender na obra. Seu trabalho aqui será tratar que o conhecimento, seja ele de qual ordem for, não deve ser dito por uma única tradição ou único método. Sua defesa se dá, em grande parte, por duas razões; A primeira é pelo fato do mundo ser demasiado desconhecido, de modo que, o risco de um sistema epistemológico único não ser capaz de apreender tudo, é muito alto. O bom cientista, segundo o autor, seria aquele que é capaz de dominar qualquer metodologia, transgredir uma metodologia vigente e passar de um sistema para outro sempre que o usual não for capaz de abarcar um determinado imprevisto. O segundo motivo se dá por uma razão ‘humanista’, razão que é contrária a anulação do elemento humano, que segundo as escolas, corrompe o pensamento científico, de modo que a ciência para o autor não deve ser apenas uma instituição fria, mas uma instituição que ajude a desenvolver pessoas e desperte o interesse pelos segredos da natureza. A defesa humanista de Feyerabend se dá nessa introdução, pelo fato de que, a ciência não se dá simplesmente a descrição fria dos fenômenos, mas  por interpretações, erros e problemas criados por observações e interpretações conflitantes.
  A necessidade de um método é defendida por alguns autores, pelo fato de delimitar a área de atuação e simplificar o pensamento. Desse modo, o conteúdo científico é mais facilmente reproduzível e apegado a uma única linha de raciocínio, de modo que, cientistas diferentes possam comunicar-se numa mesma linguagem. Além disso, o método visa impedir a contaminação da ciência por pensamentos religiosos ou metafísicos, que poderia relativizar a tradição científica. A grande questão, trazida aqui pelo autor é “Apesar desse modelo funcionar, ele realmente deve ser posto acima de outros gêneros de conhecimento e modos de conhecer? Deve-se ignorar todo saber que não fora demonstrado por um método científico vigente?” A resposta do autor, a esta questão é; Não. As razões disso, já foram expostas no primeiro parágrafo.

“A tentativa de fazer crescer a liberdade,
de atingir vida completa e gratificadora e a tentativa correspondente
de descobrir os segredos da natureza e do homem implicam,
portanto, rejeição de todos os padrões universais e de todas as
tradições rígidas.”
(p 22)

  O anarquismo científico Feyerabend, entretanto, não exclui a rigidez do método científico, ele o abarca, assim como abarca todo e qualquer método capaz de produzir conhecimento sobre a natureza.
  No meio ocultista, existe dentre os mais estudiosos, os debates acerca do método adequado ao ocultismo. Nesse debate segue-se duas correntes, uma moderna e outra mais tradicional. Os tradicionalistas costumam defender que o ocultismo e o magismo devem seguir determinada tradição metodológica, sendo todo resto “pop Magic” ou mera indução mental, tal crítica, parte do princípio de que há uma ordem(kosmos) por eles conhecida por meio dos registros de sua tradição. Os modernos, que se aproximam daquilo que Feyerabend chama de “Anarquismo”, não rejeitam os meios tradicionais, mas não prendem-se a eles, defendendo que há N maneiras possíveis tanto para a prática investigativa, como magicista.
Este texto é meramente um comentário à introdução da obra “Contra o Método” de Paul Feyerabend. E em breve, se assim meus leitores desejarem, pretendo comentar os capítulos da obra, sempre trazendo a discussão pro nosso meio. Pois engana-se quem pensa, que a evolução do pensamento ocultista tenha se dado de forma independente do resto dos movimentos culturais do homem.



“Praebere Sitientibus”
Lord Vincus
2014


0 comentário(s):

Colunistas livres

Colunistas mensais